sábado, 22 de dezembro de 2007

Kiyoshi Harada
jurista, professor e especialista em Direito Financeiro e Tributário pela USP

O Senhor Ministro da Fazenda, em face da rejeição nacional da CPMF, apoiada pela maioria dos membros do Senado Federal (por ora), vem afirmando que o governo lançará mão do aumento da carga tributária de impostos não submetidos ao princípio da legalidade tributária no que diz respeito à alteração de alíquotas, para compensar a "perda" de 40 bilhões que a CPMF iria propiciar.
Assim, ameaça com majoração do IOF, do IPI, II e do IE. O governo pode fazer isso? Absolutamente não, pelas razões adiante alinhavadas.
Os chamados impostos regulatórios, como o próprio nome está a indicar, têm função regulatória de atividades econômicas, isto é, existem como instrumento ordinatório. Não visam simplesmente a arrecadação tributária, função típica de imposto de natureza fiscal.
São impostos regulatórios aqueles previstos no art. 153, I, II, IV e V da CF (II, IE, IPI e IOF).
O imposto de importação e o imposto de exportação têm por objetivo regular o comércio exterior, sempre sujeito a variações conjunturais. Por isso, estão livres, tanto do princípio da anterioridade (§ 1º, do art. 151 da CF), como do princípio da legalidade, no que diz respeito à alteração de alíquotas "nos limites e condições estabelecidas em lei" (§ 1º, do art. 153 da CF). A Constituição outorgou ao Executivo instrumento normativo ágil para, nos limites da lei, ofertar rápida resposta às situações anômolas supervenientes no plano do comércio exterior.
A função regulatória do IPI, igualmente, dispensado da observância dos dois princípios constitucionais retroapontados, repousa no caráter seletivo em função da essencialidade do produto, conceito que varia no tempo e no espaço. O que é essencial hoje pode ser supérfluo amanhã. E o que é essencial aqui, pode não o ser em outra localidade.
O IOF tem a sua função ordinatória baseada na fixação da política de câmbio, crédito e seguro, e também de títulos e valores mobiliários. O efeito arrecadatório é mera conseqüência do exercício da função extrafiscal.
Por isso, esses quatro impostos não se submetem ao secular princípio da legalidade tributária, no que tange à alteração de alíquotas, nem ao princípio da anterioridade. Eles têm a missão de regular a economia em seus vários aspectos, a demandar um instrumento normativo célere e eficaz, o que não seria possível alcançar por meio de uma lei aprovada pelo Congresso Nacional, que poderia demandar anos de discussão.
Mas, isso não quer dizer que o Executivo possa simplesmente majorar a alíquota desses impostos, para compensar a "perda" de arrecadação de CPMF, como tem apregoado o Senhor Ministro da Fazenda, jejuno em Direito Constitucional. Tal pronunciamento ministerial soa como uma ameaça para intimidar os incautos.
O aumento ou diminuição de impostos regulatórios, por decreto do Executivo, há de encontrar justificativa no plano regulatório da economia, fundado em motivação que se harmonize com a norma do art. 174 da CF, que confere ao Estado o papel de agente normativo e regulatório da atividade econômica.
Por isso, diz o texto constitucional que o Executivo pode alterar a alíquota desses quatro impostos "atendidas as condições e limites estabelecidos em lei".
Ora, a não prorrogação da CPMF até o final deste governo não está contemplada em lei alguma como condição ou limite para alterações de alíquotas de impostos regulatórios.
Logo, se o governo quiser majorar as alíquotas de impostos regulatórios, para compensar a "perda" de arrecadação da CPMF, da ordem de 40 bilhões, que o faça por meio de um projeto de lei, enfrentando as mesmas resistências, atualmente, opostas pelo Senado Federal.
A majoração desmotivada seria inconstitucional, e a não prorrogação da CPF não seria uma motivação válida, sequer em tese.


http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10754

sábado, 10 de novembro de 2007

Medo irracional

Essa semana aconteceu uma coisa bastante triste comigo.
Quando cheguei em casa, antes de descer do carro, meu falou que iria. Eu desci do carro e fui abrir o portão. Foi aí que lembrei que havia deixado minha chave dentro do carro.
Neste exato momento, reparei num homem negro, de boné, sem camisa e com uma bolsa preta nas mãos. Completamente apavorada, comecei a gritar e a tocar a campanhia para o meu irmão vir abrir o portão. A sensação de pânico foi terrível. Imaginei que aquele homem fosse me assaltar e como estava apenas com uma jaqueta nas mãos, temi que pudesse até ser baleada.
Completamente transtornada, me virei e vi que o homem me olhava com um olhar de pena. Claro que ele percebeu que o meu estado havia sido causado por ele, pelo fato dele ser negro e por eu manifestar o meu preconceito e discriminação tão claramente.
Quinze minutos depois meu chegou e buzinou para que eu abrisse o portão da garagem. Quando sai, dei de cara com o meu vizinho que, sem ar, disse pensar que seria assaltado por um homem que estava passando na rua. Homem este que também era negro.
Comentei com a minha mãe os dois fatos que haviam ocorrido e a resposta dela para tanto preconceito é a presença constante da violência em nossas vidas. se é assim, então porque será que não temos medo quando vemos alguém branco? Afinal, a maior prova de que os brancos também roubam são os políticos que elegemos para governar o nosso país. Considero esta uma das piores formas de violência, uma vez que, com seus trambiques por baixo do pano, causam a morte de pessoas que vivem em lugares sem a mínima condição de vida.
Claro que não podemos negar que uma grande parte das pessoas envolvidas em crimes são negros, mas é preciso lembrar que tivemos longos séculos de violência para com os negros durante o período da escravidão. E depois da abolição foram jogados sem nenhuma condição de sobrevivência. Podia passar horas relatando as formas de abandonos e discriminação que sofreram.
Provavelmente, foi por isso que senti medo daquele homem. Isso, porém, não afastou a raiva que senti de mim mesma. Tenho muitos amigos negros, tenho sangue negro nas minha veias, afinal, qual é o brasileiro que não tem??

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Pão e circo pra esquecer os problemas

Mais uma vez vamos fechar os olhos para a corrupção, para Renan Calheiros, para crise energética da Petrobrás, caos aéreo, falta de saúde, educação, segurança... para pensar no que? Em longos 7 anos esperando a maldita copa do mundo de 2014!
Todo mundo afirma que o brasileiro é extremamente patriota.
Ora é muito fácil ser patriota na hora de cantar o hino nacional na final da copa do mundo..
Principalmente agora que nosso país será o hospedeiro dessa merda de copa..
Sabe o q vai acontecer agora??
Vai ter muita gente por aí dizendo:
"Foda-se a pobreza, foda-se a corrupção, foda-se a cpmf e a reeleição do Lula..
A copa vai ser aqui e eu só quero saber de torcer pro Brasil!!!!"
A raiva que sinto ao ver nosso sábio presidente relatando as vantagens da copa é inexplicável..
Pra que gastar tanto dinheiro com essa merda e deixar o país às moscas??
Quantos milhões serão gastos pra levantar os estádios, ampliar a rede de hotéis e restaurantes?? Pra que tanto se, como disse uma amiga, os turistas não ficarão aqui pra sempre????
Agora eu pergunto, caro presidente:
E NÓS??????????????
A nossa segurança é uma coisa que só merece atenção quando temos algum evento de valor internacional??
O que aconteceu com todo o investimento realizado para os jogos pan-americanos???
Aliás, incrível como durante o períodos dos jogos não se ouviu nenhuma, repito, nenhuma notícia sobre confrontos com a polícia nos morros cariocas.
A dúvida fica no ar: a segurança realmente funcionou ou a violência foi abafada pela mídia?
Acreditem, a história vai se repetir.
É foda.... muito foda..... o futebol é mais importante que a população do país....E todos caem nas redes da política do Panis et Circenses... onde todos enchem suas barrigas com o fome zero (que não funciona e nunca vai funcionar) e se entorpecem com o êxtase do futebol.... e esquecem que o país é uma bosta!
Até quando?